Natal, Comida & Tradição
Como a cozinha conta histórias e cria memórias.
Ana Federici
12/12/20252 min read


O Natal é uma das épocas do ano em que a cozinha ganha um papel central na vida das famílias. Não apenas pelo cardápio, mas pelo significado cultural e afetivo que cada preparo carrega. Muito do que fazemos nessa data nasceu de tradições antigas, misturas de culturas e rituais que atravessaram séculos até chegar à mesa brasileira — e compreender essa história amplia o sentido das receitas que ensinamos às crianças e às famílias.
A prática de reunir a família para uma ceia nasce de festividades europeias anteriores ao cristianismo, marcadas pela gratidão pela colheita, pela chegada do inverno e pela necessidade de manter viva a sensação de comunidade. Com o tempo, essas celebrações foram incorporadas ao calendário cristão e transformadas em um ritual de encontro, fartura e continuidade familiar. No Brasil, esse costume ganhou novas camadas: influências indígenas, africanas e portuguesas se misturaram ao repertório europeu, criando um Natal com identidade própria.
O salpicão, que aparece em muitas ceias brasileiras, é outro exemplo de prato híbrido. Ele combina o frango defumado — associado a ocasiões festivas — com vegetais frescos, maçãs, uvas-passas e um molho cremoso que equilibra crocância, doçura e acidez. Sua presença no Natal revela um hábito brasileiro de reunir alimentos de diferentes origens em um prato único, prático e abundante, que pode ser servido frio e alimentar muitas pessoas.
ambém conversamos sobre as tradições relacionadas ao gingerbread e ao uso de especiarias no Natal. Na Europa medieval, especiarias eram bens valiosos, reservados para celebrações importantes. Por isso, o aroma de canela, noz-moscada, gengibre e cravo tornou-se símbolo de festa, aconchego e ritual. Ao preparar gingerbread com as crianças, resgatamos essa história de forma lúdica, permitindo que elas participem de um costume antigo por meio da vivência prática: sentir o cheiro, tocar a massa, cortar os biscoitos e levar um pote para presentear.
Para o NaCaZinha, o Natal é menos sobre perfeição e mais sobre presença. É uma oportunidade de trazer as famílias para dentro da cozinha, de mostrar que cozinhar pode ser uma atividade compartilhada e significativa, e de fortalecer vínculos por meio da prática, da conversa e da tradição. Cada receita ensina algo: textura, técnica, origem, memória. E cada preparo — seja salpicão, farofa, pudim de pão ou gingerbread — é uma porta de entrada para conversas sobre cultura, história e pertencimento.
Ao trabalhar com esses pratos nas oficinas, buscamos mostrar que a cozinha é uma herança viva. Um lugar onde passado e presente se encontram, onde crianças aprendem com as mãos e compreendem o mundo pelo sabor. E que, especialmente no Natal, cozinhar é mais do que alimentar: é continuar escrevendo a história da família, uma receita de cada vez.


