Comer com moderação: um aprendizado necessário
Por que a moderação importa e como praticá-la no cotidiano: lições da França e do “hara hachi bu” japonês, com ideias simples para aplicar em família no Brasil.
Ana Federici & Rachel Francischi
9/16/20253 min read


Uma das chaves para manter melhorias na forma como nos alimentamos está em desenvolver a habilidade de praticar a moderação. Como sociedade, muitas vezes caímos nos extremos: ou exageramos no consumo de determinados alimentos, ou tentamos bani-los completamente da nossa rotina. Essa lógica de “tudo ou nada” fica evidente quando observamos as prateleiras dos supermercados.
Por que falar de moderação hoje?
De um lado, encontramos versões cada vez maiores de produtos, com porções que ultrapassam em muito as necessidades do corpo. De outro, vemos embalagens que estampam declarações absolutas como “sem açúcar” ou “sem gordura”. Esses apelos soam sedutores porque parecem resolver o problema de forma simples: ou você pode comer à vontade, ou não pode comer de jeito nenhum.
Mas será que precisa ser assim?
Em países como a França, onde a cultura alimentar valoriza qualidade, sabor e prazer à mesa, a moderação é vivida de forma natural. Não é que os franceses não comam manteiga, pães ou doces — pelo contrário, eles os apreciam bastante. A diferença está no quanto e na maneira de comer: porções menores, refeições mais lentas, rituais que priorizam a experiência. Essa postura mostra que nenhum alimento precisa ser demonizado, mas que o equilíbrio está na forma como nos relacionamos com ele.
Há ainda um detalhe curioso: ao final da refeição, em vez de perguntar se alguém está “cheio”, os franceses costumam perguntar se a pessoa está “satisfeita”. Essa diferença de linguagem não é apenas semântica — ela traduz uma visão cultural que coloca o prazer e a qualidade da refeição no centro, e não o volume de comida ingerida.
No Japão, a moderação também faz parte do cotidiano. Em Okinawa, região famosa pela longevidade de seus habitantes, existe a prática do hara hachi bu, que significa literalmente “estômago 80% cheio”. A ideia é parar de comer antes da saciedade completa, quando já não há fome, mas ainda sem aquela sensação de estar totalmente cheio. Estudos mostram que quem adota esse hábito tende a consumir menos calorias e mais vegetais, mantendo uma dieta equilibrada e sustentável ao longo da vida. Essa filosofia reflete uma maneira simples e eficaz de praticar a moderação no dia a dia.
Quando aprendemos a habilidade da moderação, nenhum alimento precisa ser proibido. O segredo está em não consumir em excesso. Isso significa que podemos continuar a apreciar os sabores que amamos, mas em quantidades que respeitem o corpo e sua saúde. A forma como comemos – e não apenas o que comemos – passa a ser uma questão central.
Como levar moderação para a rotina da família (exemplos práticos)
Uma forma simples de ajudar as crianças a desenvolverem essa habilidade é pelo exemplo. Em casa, podemos servir porções menores e mostrar que repetir é sempre uma opção se ainda houver fome — assim elas aprendem a escutar o próprio corpo. Também é importante não obrigar a criança a “limpar o prato”: respeitar os sinais de fome e saciedade ajuda no aprendizado da moderação. Outra ideia é permitir que ela mesma se sirva, ajustando a quantidade conforme sua fome no momento. Ao preparar uma sobremesa em família, por exemplo, podemos dividir em partes menores e ensinar que saborear com calma é tão prazeroso quanto comer muito. Dessa forma, transformamos a moderação em uma prática cotidiana, acessível e cheia de significado.
Conclusão — equilíbrio possível no dia a dia
A moderação nos lembra que o equilíbrio é sustentável, enquanto os extremos raramente são. Comer com consciência e sem exageros é um caminho que nos permite saborear a comida, cuidar da saúde e manter uma relação mais leve e prazerosa com a alimentação.




